Sem sofrer não vamos crescer
Por José Luiz Tejon, para a Exame
Infelizmente não tem jeito. A situação brasileira exigirá dor e sofrimento. Iludir o povo com ilusões consumistas e os empresários com subsídios fora da veia da inovação, quando estamos condenados à produtividade, é falsidade que mais cedo ou mais tarde termina por regurgitar dos bueiros.
Achar que vamos evoluir o país, quando a China leva 15 dias e gasta US$ 800 para colocar seus produtos nos Estados Unidos, e o Brasil demora 80 dias para abastecer o mercado americano a um custo de US$ 2,5 mil (exemplo Centro Rochas, Olivia Tirello, ESPM), ou quando temos a logística mais cara e burocrática do planeta no agronegócio, o único setor que ainda mantém a cabeça fora do mangue, exigirá cortes em outras despesas, confiabilidade de governo e investimentos com foco total em infraestrutura e modernização logística, adicionando-se educação, corte de impostos, diminuição do custo Governo, reforma política, estímulo a novas lideranças da sociedade civil organizada (viva o Quarteto do Nobel da Paz da Tunísia). Você acredita que isso poderá ser feito sem dores e sofreres? No pain, no gain (sem dor, sem ganho), diz o velhíssimo ditado inglês.
O novo Brasil precisará abrir seus mercados e, para isso, precisará eleger a meritocracia, e uma recodificação de valores, onde empreendedorismo, cooperativismo e austeridade marcariam a nova cara brasileira, sem perder a ginga tropical, que nos identifica na unicidade planetária.
Precisaremos inserir o Brasil na cadeia global de valor, ou seja, importar para exportar. Há 20 anos, 20% do que um país exportava, em média era importado. Hoje esse percentual subiu para 40% e, em 20 anos, chegara a 60%. Embraer que o diga!
Todos os bons analistas, textos, artigos e palestrantes nos congressos do “fora a crise” sabem muito bem o que tem que ser feito. Mas a gigantesca diferença entre saber o que tem que ser feito e fazer o que tem que ser feito tem um preço: dói. E como dói, todos esperam que os outros assumam os calvários e as crucificações e que nos deixem como apenas os salvados, pelos heróis salvadores.
O cálice, o famoso cálice da tentação que Cristo sofreu para não assumir os flagelos terríveis das torturas, humilhações e a morte na cruz, parece simbolizar um lado admirável, amado, de enlevo ascensional inigualável, mas, Senhor, afasta de mim esse cálice.
Sem sofrer não vamos crescer. Precisamos de um líder que saiba sofrer, que se alegre na superação da dor para cruzar estes mares da perplexidade, onde imolar vacas e carneiros não cura a fuga para o progresso. Necessitamos de competência realista, acima da manipulação populista. E se ela persistir, que haja então um “bolsa cálices”. Assim, todos terão um para reflexão.
Felicidade em 2016 significa compreender a missão, transformar as dores em soluções de prazeres, assumir a luta humana contra a entropiae criar uma verdadeira pedagogia da superação: “criar valor a partir da sua própria vida, sob quaisquer circunstâncias” (Makiguti). E o que significa valor? O bem, o belo e o útil. Aprender e ensinar superação, eis a questão de todas as questões. Sairemos dessa juntos, fortalecidos e muito melhores como povo e nação brasileira. Feliz 2016 não se trata de um desejo, mas de uma vontade e vocação.