Os pobres não precisam ser guiados e, sim, os líderes de si mesmos, por Luiz Tejon
Todas as formas de religião que não estejam focadas na essência da alma humana, de governos assistencialistas, e de guias “bla bla blantes” (expressão de Paulo Freire), que fala sobre defender os pobres e oprimidos, desejo a eles uma “enxurrada de Nietsche”. Eu não posso ter uma profissão chamada de “defensor dos pobres e oprimidos”. Isso, se virar uma profissão, a razão de ser de uma política, de uma religião, de um governo, termina por ser a matéria-prima essencial para a sua própria existência.
O que eu vou fazer no dia em que terminarem os pobres e oprimidos? Fico um guia sem guiados. Portanto, termino sem querer, mas querendo, mantendo exércitos de pobres e oprimidos, que terminam por representar a razão maior da própria vida, de tudo e todos, que os têm como missão na terra. E, no dia em que não houver mais fome, (hoje tem mais obesos do que famintos na miséria), como ficará o meu discurso? Será não mais para a miséria material, mas para os pobres e oprimidos mentais, cerebrais, dizendo a eles que eles podem, querem e devem pegar. O quê? Tudo de um shopping center?
A única liderança, para os líderes de almas raras, está na evolução espiritual. Numa condução dessa nossa casa dentro do universo, esta bolotinha terra, por profundos valores de generosidade. Fazem mais pelos pobres e oprimidos, Bill Gates e Warren Buffett que convencem 40 bilionários a doar metade da fortuna aos Estados Unidos e com isso gerar US$ 600 bilhões em fundos filantrópicos, do que milhões de iludidos profetas defensores dos seus fracos e oprimidos.
Se todos os vocacionados, capacitados que conseguem reunir fortunas, devolvessem à sociedade metade de suas riquezas, e se esses aportes forem dirigidos para causas de libertação humana, educação desde a base, amor ao trabalho, à criatividade, com empreendedorismo e cooperativismo; resolveríamos em velocidade os mais profundos dramas humanos. E, claro, seria uma utopia imaginar isso sem uma severa vigilância, leis, valores e rigores. Podemos destacar exemplos positivos e ricos dessas ações. Conhecemos pessoas, lugares, cidades do país, onde a diferença da qualidade de vida é real, e isso será sempre o reflexo de uma sociedade com uma liderança feita por homens e mulheres de almas raras.
A cada um conforme sua necessidade, de cada um conforme sua possibilidade. Mas que seja dado a cada um a coragem, pois a eliminação do medo é o primeiro ponto de partida. Quem prega através do medo, fala pela voz do erro, pela treva cega, e confunde seres humanos, mantendo-os distraídos, iludidos e, acima de tudo, “guiados”. Misture São Francisco de Assis com Nieztche, pra começar deve dar o que Jorge Luis Borges definiu como sendo uma “grande paella”: o resultado da mistura e da interação de todos os elementos, todas as essências, todas as especiarias, com os melhores insumos… Mas para ser realmente uma grande paella, além de ser o resultado dessa obra das misturas, precisaria preservar e manter a integridade de cada pequeno grão de arroz.