Líderes incompetentes crucificam e são crucificados, por Luiz Tejon
A história das crucificações data de cerca de 500 anos antes de Cristo. Foi extinta em Roma, por Constantino em 313 depois de Cristo, mas em alguns lugares do planeta ainda é exercida, como relata a Anistia Internacional. O registro da maior crucificação da história ocorreu em Roma, com Spartacus e outros 6 mil rebeldes em 70 a.C; e outro caso foi na Judéia, em 66 d.C, onde 500 judeus eram crucificados todos os dias e a coisa só parou pela falta da matéria prima: madeira.
Esse método tenebroso durava em torno de 3 dias para matar o crucificado que chegava a suar sangue, como Cristo. Mas a história também revela que crucificadores, com o passar do tempo, terminavam por virar, da mesma forma, os novos crucificados. Não talvez nas cruzes físicas, mas em outros tipos de cruzes, fogueiras, guilhotinas, esquecimento, abandono, traições, assassinatos e suicídios. Para esse relato, basta recordar que Shakespeare, continua imortal, recorrente e atual.
Tudo isto vale agora para olharmos o inexorável que a ausência da competência, não apenas individual, ou mesmo ainda de grupos, mas o que uma lacuna de competência ampla, generosa e sistêmica, uma substituição das visões de longo prazo pelos oportunismos do curtíssimo e curto prazo, podem fazer com o líder e com os seus liderados.
“A marcha da insensatez”, livro genial de Barbara Tuchman, não pode deixar de ser lido e relido. Da mesma forma como a Revolução dos Bichos, de George Orwell. Duas obras que reunidas formam uma genial pororoca de beijos na realidade. Agora, de olho aqui nas crucificações do patropi: “o governo desistiu de um superavit primário de 1,2% do PIB e fixou meta de 0,15%. Viramos o grande grego tropical, e instilamos nas macro decisões nacionais um cavalo de Tróia em nós mesmos. Sigo nessa Gustavo Franco que diz “a patologia brasileira é conhecida como dominância fiscal, e apenas se cura abstraída a feitiçaria, reduzindo dívida via superavit primário”. (Oesp – 26/7). As contas então nos obrigam a termos superavit na casa dos 3, e da mesma forma crescimento na ordem dos 3.
O 3 representa a trindade da crucificação dos líderes incompetentes que crucificam a sociedade e, ao final, triste sina histórica, terminam crucificados pela mesma sociedade. O mal causado pelo festival de incompetências que assola o Brasil é monumental e gigantescamente maior do que o da corrupção. Só que esse é mais fácil de pegar. A polícia federal, o Ministério Púublico e um Judiciário dão jeito. O outro? Tristemente mais lento do que a morte na cruz. Só o tempo revela, crucifica, e não tem ressurreição. Mas o sofrimento geral é inevitável.
Lava Jato é assunto de lei e cadeia. Incompetência é coisa de valores, cultura e vigilância. A mídia precisa rever a ênfase das suas pautas, urgente.
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Artigo originalmente publicado no portal da Revista Exame.